Armadura (música)

A armadura da clave (português brasileiro) ou armação de clave (português europeu) é o conjunto de acidentes colocados ao lado da clave na pauta musical, indicando que as notas correspondentes à localização na pauta onde a armadura foi escrita, devem ser tocadas de maneira consistente um semitom acima ou abaixo de seu valor natural, (por exemplo, as notas brancas do piano) conforme se usem sustenidos ou bemóis, respectivamente, na armadura. A armadura geralmente é escrita imediatamente após a clave no início da pauta musical embora possa aparecer em outro local da partitura, especialmente após um compasso iniciado por uma barra dupla.

Esta é a escala em si maior, escrita com os acidentes que identificam a tonalidade

e aqui a mesma escala (as mesmas notas são tocadas) escrita usando-se a armadura da clave.

O efeito da armadura, isto é as notas que ela afeta, transformando-as em sustenidos ou bemóis, permanece por toda a peça ou movimento, a menos que seja anulado por outra armadura. Por exemplo, uma armadura com cinco sustenidos é colocada no início de uma peça. Todo que aparecer na música em qualquer oitava será executado como um lá sustenido, a menos que precedido por algum acidente . Por exemplo, o na escala acima —; a penúltima nota —; é tocado como um lá sustenido mesmo estando uma oitava acima da posição onde o sustenido na nota foi indicado na armadura.

Geralmente, quando há apenas um sustenido, este deve ser o fá sustenido. A seqüência de sustenidos e de bemóis é rígida em música desde o período de prática comum (1600 a 1900). A ordem dos sustenidos e bemóis é mostrada a seguir. No século XX, compositores como Bartók e Rzewski (ver abaixo) começaram a fazer experimentações com armaduras não convencionais que não obedeciam à ordem padrão.

Nas partituras que contêm mais de um instrumento, a escrita para todos os instrumentos é feita com a mesma armadura. Exceções:

  • Se o instrumento é um instrumento transpositor (em que a música tem que ser escrita numa tonalidade diferente);
  • Se o instrumento é um instrumento de percussão, sem tonalidade definida;
  • Por convenção, muitos compositores omitem a armadura nas partes da trompa. Isto talvez seja uma reminiscência do passado, dos primeiros dias dos metais, quando se acrescentavam extensões curvas às trompas para aumentar o comprimento do tubo, alterando a tonalidade do instrumento;
  • Nas partituras do século XV, "armaduras parciais" nas quais as diferentes vozes, têm armaduras diferentes, são bastante comuns; entretanto isto se deriva dos hexacordes diferentes em que as partes foram implicitamente escritas e o uso da expressão armadura pode ser engandor a música desse período e anteriores.

Relação entre a armadura e a tonalidade

A armadura de clave e a tonalidade são objetos diferentes: a armadura de clave é tão somente um recurso de notação. Ela é conveniente, principalmente para a música diatônica ou tonal. Algumas peças que mudam a tonalidade (modulam) inserem uma nova armadura na pauta enquanto que outras usam acidentes: sinais de bequadro para neutralizar a armadura e outros sustenidos e bemóis para a nova tonalidade.

Para um dado modo a armadura define a escala diatônica que a obra musical usa. A maioria das escalas necessitam que algumas notas sejam consistentemente modificadas por sustenidos ou bemóis. Por exemplo na tonalidade de sol maior a nota que define o tom é o fá sustenido. Portanto a armadura associada à tonalidade de sol maior é a armadura com um sustenido. No entanto, o fato de se ter uma armadura com um sustenido não garante que a tonalidade da obra seja um sol maior. Muitos outros fatores determinam a tonalidade de uma peça. Isto é particularmente certo com relação aos tons menores. A famosa Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 538 (Tocata e Fuga Dórica) de Bach, é assim chamada porque, embora seja em ré menor, não possui armadura, implicando que é em Ré Dórico. No lugar da armadura, os sis bemóis necessários para a tonalidade de ré menor são escritos com acidentes tantos vezes quantas forem necessárias.

Duas tonalidade que compartilham a mesma armadura são chamadas de tonalidades relativas.

Quando os modos tais como o lídio e o dórico são escritos utilizando as armaduras eles são chamados de modos transpostos.

História

O uso de um bemol como armadura se desenvolveu no período medieval, mas armaduras com mais do que um bemol ou com sustenidos não surgiram antes do século XVI. A música barroca escrita em tons menores freqüentemente era escrita com menos bemóis do que os agora associados à suas tonalidades. Por exemplo, movimentos em dó menor, frequentemente têm dois bemóis na armadura, porque o lá bemol freqüentemente tem que ser aumentado para o lá natural (lá bequadro) nas escalas menores harmônica e melódica , assim como o si bemol, na escala menor melódica.

Tabela de armaduras

A tabela a seguir, ilustra o número de sustenidos e bemóis de cada armadura e as armaduras do relativo maior para as escalas menores (ver círculo de quintas). Lembrar de todas as armaduras é relativamente fácil se forem seguidas as seguintes quatro regras simples:

  • Dó maior não possui sustenidos nem bemóis;
  • Um bemol é fá maior;
  • Para mais de um bemol, o tom maior é o do penúltimo bemol, sempre bemolizado; e
  • Para qualquer número de sustenidos, pegue o último sustenido e o aumente de dois semitons para chegar ao tom maior (lembrando que um tom = dois semitons). Assim: dó + dois semitons = ré. Mi + dois semitons = fá sustenido. (O relativo menor é uma terça menor abaixo do tom maior, independente se a armadura possui sustenidos ou bemóis).

No caso das armaduras com sustenidos, o primeiro sustenido é colocado na linha do (para o tom de sol maior/mi menor). Os sustenidos seguintes são adicionados, respectivamente nos locais da pauta correspondentes às notas , sol, , , mi e si. As armaduras de bemóis seguem a seqüência dos sustenidos na ordem inversa, ou seja: si, mi, , , sol, e fá. Há 15 diferentes armaduras incluindo a armadura vazia de dó maior/lá menor. Esta seqüência é apresentada no círculo de quintas.

As armaduras com seqüências de sete bemóis ou sete sustenidos, são raramente utilizadas não só por que as notas nestas tonalidades extremas de sustenidos ou bemóis são mais difíceis de executar na maioria dos instrumentos, como, também, porque elas têm equivalências enarmônicas. Por exemplo, a tonalidade de dó sustenido maior (com sete sustenidos) é representada de maneira mais simples como ré bemol maior (cinco bemóis). Modernamente, para os fins práticos, essas tonalidades são iguais por que dó sustenido e ré bemol são a mesma nota. Entretanto, obras foram escritas nessas tonalidades extremas, por exemplo, o Prelúdio e Fuga nº 1 de O Cravo Bem Temperado de Bach, BWV 848 é em dó sustenido maior.

As anteriormente mencionadas 15 armaduras, entretanto, definem apenas as escalas diatônicas e são, por isso, chamadas de armaduras padrão. Outras escalas estão escritas com a armadura padrão, acrescidas dos acidentes requeridos ou com uma armadura não padronizada tal como, por exemplo, mi bemol, na mão direita e fá bemol e sol bemol (na mão esquerda), usadas na escala de mi bemol reduzida (mi bemol octatônico) na obra Mãos Cruzadas de Béla Bártok (nº 99, vol. 4 e Microcosmos) ou si bemol, mi bemol e fá bemol, usados para a escala dominante frígia em Deus para Uma Criança Faminta de Frederic Rzewski.

Observe-se que a ausência de uma armadura nem sempre significa que a música está em dó maior ou lá menor: cada acidente pode ser anotado explicitamente como requerido ou a peça pode ser modal ou atonal.

Armadura Tom maior Tom menor
Armadura de Dó maior
Sem sustenidos ou bemóis
Dó maior Lá menor
Armadura. Tom Maior Tom Menor
Armadura de Fá maior
1 bemol
Fá maior Ré menor
Armadura de Si bemol Maior
2 bemóis
Si♭ maior Sol menor
Armadura de Mi bemol Maior
3 bemóis
Mi♭ maior Dó menor
Armadura de Lá bemol Maior
4 bemóis
Lá♭ maior Fá menor
Armadura de Ré bemol Maior
5 bemóis
Ré♭ maior Si♭ menor
Armadura de Sol bemol Maior
6 bemóis
Sol♭ maior Mi♭ menor
Armadura de Dó bemol Maior
7 bemóis
Dó♭ maior Lá♭ menor
Armadura Tom maior Tom menor
Armadura de Sol Maior
1 sustenido
Sol maior Mi menor
Armadura de Ré Maior
2 sustenidos
Ré maior Si menor
Armadura de Lá Maior
3 sustenidos
Lá maior Fá♯ menor
Armadura de Mi Maior
4 sustenidos
Mi maior Dó♯ menor
Armadura de Si Maior
5 sustenidos
Si maior Sol♯ menor
Armadura de Fá Sustenido Maior
6 sustenidos
Fá♯ maior Ré♯ menor
Armadura de Dó sustenido Maior
7 sustenidos
Dó♯ maior Lá♯ menor


Dicas

  • Nos sustenidos, o nome da escala se dá a partir da próxima nota onde o último sustenido está posicionado na armadura.
  • Nos bemóis, o penúltimo presente na armadura, dá o nome da escala.

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Ver também

Ligações externas

  • Teoria Musical, de Ricci Adams Armaduras
  • Teoria Musical, de Ricci Adams Cálculo da Armadura
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Armadura (música)
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Escalas diatónicas e armaduras
Circle of fifths
Circle of fifths
Bemol Sustenido
Maior menor Maior menor
0
1 sol mi
2 si♭ sol si
3 mi♭ fá♯
4 lá♭ mi dó♯
5 ré♭ si♭ si sol♯
6 sol♭ mi♭ fá♯ ré♯
7 dó♭ lá♭ dó♯ lá♯
A tabela indica o número de sustenidos ou bemóis de cada escala. As escalas menores estão escritas em minúsculas.
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Pauta
Armadura · Clave · Clave de fá · Clave de dó · Clave de sol · Coda · Compasso · Escala musical · Fórmula de compasso · Modo musical · Tempo · Tonalidade · Transposição
Notas
Acidentes (Bemol · Bequadro · Sustenido · Dobrado)  · Altura · Duração · Nota pontuada · Pausa
Articulação
Acentuação · Dinâmica · Legato  · Ligadura  · Marcato  · Ornamento · Ossia  · Staccato  · Tenuto
Desenvolvimento
Da capo · Segno  · Harmonia · Melodia · Dissonância  · Motivo  · Ritmo (Tempo · Métrica · Andamento· Fermata  · Tema · Tonalidade · Atonalidade
Relacionados
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Graus musicais da escala
Grau I: Tônica
1ª nota da escala, determina a tonalidade da composição (nota todal), passa sensação de repouso natural
Grau II: Supertônica
2ª nota da escala, acima da tônica, substitui a subdominante, tem função resolutiva em direção à tônica ou em direção à mediante
Grau III: Mediante
3ª nota da escala, determina o modo maior ou menor (nota modal), grau intermediário forma terça com a tônica e a dominante,
Grau IV: Subdominante
4ª nota da escala, abaixo da dominante, passa sensação de afastamento ou meio-instável, sem a estabilidade da tônica e sem a angústia da dominante
Grau V: Dominante
5ª nota da escala, entre a subdominante e a superdominante, passa sensação de tensão para a chegada da estabilidade da tônica
Grau VI: Sobredominante
6ª nota da escala, acima da dominante, grau intermediário forma terça com subdominante e a tônica superior, substitui a tônica
Grau VII: Sensível
7ª nota da escala, ou subtônica quando possui um tom com à tônica superior; sensível quando possui um semitom com à tônica superior
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  • d
  • e
Intervalos
Os números entre parêntesis indicam quantos semitons tem o intervalo.
Semitons não inteiros são indicados aproximadamente.
Doze semitons
(Ocidental)
Perfeitos
uníssono (0) · quarta (5) · quinta (7) · oitava (12) · décima-quinta (24)
Maiores
segunda (2) · terceira (4) · sexta (9) · sétima (11)
Menores
segunda (1) · terceira (3) · sexta (8) · sétima (10)
Aumentados
uníssono (1) · segunda (3) · terceira (5) · quarta (6) · quinta (8) · sexta (10) · sétima (12) · oitava (13)
Diminutos
uníssono (-1) · segunda (0) · terceira (2) · quarta (4) · quinta (6) · sexta (7) · sétima (9) · oitava (11)
Compostos
nona (13 ou 14) · décima (15 ou 16) · décima-primeira (17) · décima-terceira (18 ou 19)
Outros intervalos
Grupos
Microtom · coma · Pseudo-oitava · intervalo pitagórico
Coma

coma pitagórica · apótome pitagórica · lima pitagórica · diese · diese de sétima · coma de sétima · coma sintónica · esquisma · diasquisma · lima maior · ragisma · breedsma · kleisma · kleisma de sétima · semicoma de sétima · coma de Orwell · semicoma · jubilisma · quarto de tom de sétima · terço de tom de sétima

Medição
Cent · Milioitava · Savart
Outros
Quarto de tom · Wolf · Dítono · Semidítono · coma de Holdrian · secor
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