Egon Schaden

Egon Schaden
Conhecido(a) por pioneiro na etnologia no Brasil
Nascimento 4 de julho de 1913
São Bonifácio, Santa Catarina, Brasil
Morte 16 de setembro de 1991 (78 anos)
São Paulo, SP, Brasil
Residência Brasil
Nacionalidade brasileiro
Cônjuge Margarida Salf
Alma mater Universidade de São Paulo (graduação e doutorado)
Orientador(es)(as) Emilio Willems
Instituições Universidade de São Paulo
Campo(s) Antropologia

Egon Francisco Willibald Schaden (São Bonifácio, 4 de julho de 1913 — São Paulo, 16 de setembro 1991) foi um antropólogo, etnólogo, pesquisador e professor universitário brasileiro.

Biografia

Egon nasceu em 1913, na cida de São Bonifácio, em Santa Catarina. Filho mais velho de Catharina Roth Schaden e do imigrante alemão Francisco Schaden, Egon tinha mais 10 irmãos e realizou sua escolarização inicial em São Bonifácio tendo o próprio pai como professor. Quando criança, Egon viu seu pai intermediar conflitos entre nativos e bugreiros, que eram contratados por fazendeiros para exterminar os indígenas locais. Desde tenra idade, ele viu a forma como os indígenas eram tratados e exterminados, algo que o estimularia no futuro a pesquisar e defender as populações indígenas.[1][2]

Após terminar o ensino primário, Egon passou três anos fora da escola até ser beneficiado por um programa de bolsas de estudo do governo estadual quando tinha 15 anos. Isso lhe permitiu continuar sua formação acadêmica, em regime de internato, no Ginásio Catarinense, em Florianópolis. Em 1933, Egon se mudou para a capital paulista onde ingressou no curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo, por influência do pai. Obteve o bacharelado em 1937, tendo estudado com Gilda de Mello e Souza e Gioconda Mussolini.[1][3]

Carreira

Entre 1938 e 1940, Schaden residiu em Santa Catarina, dedicando-se ao magistério, no ensino médio, e às suas primeiras pesquisas entre populações indígenas de Santa Catarina, além de redigir e publicar a tradução brasileira de Durch Central Brasilien, de Karl von den Steinen.[4]

Egon retornou à faculdade em 1941 para obter a licenciatura e no ano seguinte ele se tornou professor assistente da cátedra de Emilio Willems, destacando-se como pesquisador no campo da cultura indígena e antropologia da comunicação. Foi o único antropólogo da sua geração a ter origem rural. Quando, em 1949, Willems se transferiu para os Estados Unidos, Schaden assumiu o seu lugar como professor catedrático de Antropologia.[4]

Nesta posição, criou, em junho de 1953, a Revista de Antropologia. Os recursos disponíveis eram tão poucos e o seu grau de envolvimento era tanto que pagava o papel para a revista de seu próprio bolso e levava pessoalmente os números da revista para o Correio. Além disso, asssumia para si as funções de editor e copidesque, revisando não apenas a gramática, mas o estilo e a qualidade acadêmica dos textos. Isto era necessário, uma vez que, na revista, eram publicados textos descritivos de missionários, que talvez não tivessem maior conhecimento teórico de antropologia, mas que tinham a importância da descrição.[5]

Segundo João Baptista Borges Pereira:

O fundador da cadeira de Antropologia na USP foi o alemão Emilio Willems, que era um grande antropólogo e já tinha feito doutorado em Berlim. Ele chegou aqui na USP a convite do Dr. Fernando de Azevedo e criou a disciplina Antropologia em 1936, mas não conseguiu desenvolvê-la muito bem, até porque a disciplina estava dividida entre duas cadeiras: antropologia e etnografia do Brasil e língua tupi. Plínio Ayrosa chefiava a etnografia e também fazia parte do conselho da Revista [de Antropologia]. Havia essa situação meio esdrúxula de se trabalhar com etnografia, e que só desapareceu quando Plínio Ayrosa se aposentou e, então, Schaden conseguiu politicamente juntar as duas cadeiras e trazer, até mesmo, o Museu Plínio Ayrosa para cá. O acervo do Museu ficou durante muitos anos aqui no Departamento, mas depois acabou sendo transferido para o Museu de Arqueologia e Etnologia, o MAE.[5]

Aluno de Claude Lévi-Strauss e mestre da primeira geração de antropólogos da USP (formada por Eunice Ribeiro Durham, Ruth Cardoso, João Baptista Borges Pereira, entre outros), Egon Schaden é considerado um dos pais da antropologia no Brasil por ter ajudado a criar esta cadeira na Universidade de São Paulo. Discutindo questões de imigração e conflitos indígenas, ele foi reconhecido no meio científico brasileiro e no exterior, viajando pelo mundo como professor visitante.[6]

Em 1967, Egon se aposentou prematura e precipitadamente da Universidade de São Paulo para reger, em caráter efetivo e vitalício, a cátedra de Etnologia da Universidade de Bonn, na Alemanha, onde estivera várias vezes como professor visitante. Porém, questões pessoais e familiares o impediram de assumir essa função que tanto almejara. Neste período pós-aposentadoria, aproveitou para dar cursos e conferências na Alemanha, França, Canadá, Suíça, Japão, Colômbia, Equador e Paraguai. O regime militar, por sua vez, o impediu de sair do país depois disso.[4]

Ao retornar, ingressou como professor na Escola de Comunicações e Artes da USP, onde consolidou a área da Antropologia da Comunicação, onde passou seus últimos anos.[4]

Vida pessoal

Egon se casou em 1939 com Margarida Salf, com quem teve três filhos: Reimar, Érica e Marina.[4]

Morte

Egon Shaden morreu em 16 de setembro de 1991, na capital paulista, aos 78 anos, após um acidente de trânsito.[7]

Bibliografia

  • Aculturação e assimilação dos índios do Brasil (Schaden 1967)
  • Aculturação e messianismo entre índios brasileiros (Schaden 1972)
  • Aculturação indígena (Schaden 1969)
  • A erva do diabo (Schaden 1948)
  • A Etnologia no Brasil (Schaden 1980)
  • A mitologia heróica de tribos indígenas do Brasil (Schaden 1988)
  • A obra científica de Koch-Grünberg (Schaden 1953)
  • A obra científica de Paul Ehrenreich (Schaden 1964)
  • A origem dos homens, o dilúvio e outras histórias kaingáng (Schaden 1950)
  • A origem dos homens, o dilúvio e outros mitos Kaingáng (Schaden 1953)
  • A origem e a posse do fogo na mitologia guaraní (Schaden 1955)
  • Apontamentos sobre os Guarani (Nimuendajú 2013)
  • Apresentação à 2.ª edição dos "Ensaios de etnologia brasileira", de Herbert Baldus (Schaden 1979)
  • A religião Guaraní e o cristianismo: contribuição ao estudo de um processo histórico de comunicação intercultural (Schaden 1982)
  • As culturas indígenas e a civilização (Schaden 1955)
  • Aspectos fundamentais da cultura guaraní (Schaden 1974)
  • Ayvu Rapyta (Cadogan 1959): "Nota Preliminar" de Egon Schaden
  • Bibliografia do p. Wilhelm Schmidt, SVD (Schaden 1943)
  • Caracteres específicos da cultura Mbüá-Guaraní: subsídios e sugestões para um estudo (Schaden 1963)
  • Contribuições para a etnologia do Brasil (Ehrenreich 1948)
  • Desenho e arte ornamental dos índios brasileiros (Schaden 1958)
  • Desenhos de índios Kayová-Guaraní (Schaden 1963)
  • Documentação cinematográfica das culturas indígenas brasileiras (Schaden 1979)
  • Duas palavras de apresentação (Schaden 1979)
  • Educação indígena (Schaden 1976)
  • Entre os aborígenes do Brasil Central (Steinen 1940)
  • Estudos de aculturação indígena (Schaden 1963)
  • Fragmentos da mitologia kayuá (Schaden 1947)
  • Karl von den Steinen e a exploração científica do Brasil (Schaden 1956)
  • Mitos e Contos dos Ngúd-Krág (Schaden 1947)
  • Notas sôbre a vida e a obra de Curt Nimuendajú (Schaden 1967)
  • Notas sôbre a vida e a obra de Curt Nimuendajú (Schaden 1968)
  • Notas sôbre etnocentrismo (Schaden 1946)
  • Observações de Wilhelm Christian Gotthelf von Feldner entre os Maxakarí na primeira metade do século XIX (Becher 1961)
  • O estudo do índio brasileiro — ontem e hoje (Schaden 1952)
  • O estudo do índio brasileiro ― ontem e hoje (Schaden 1972)
  • O Guarani: uma bibliografia etnológica (Melià, Saul & Muraro 1987)
  • O índio brasileiro: imagem e realidade (Schaden 1977)
  • O índio e sua imagem do mundo (subsídios para um estudo de antropologia simbólica) (Schaden 1978)
  • On sambaqui skulls (Willems & Schaden 1951)
  • O problema indígena (Schaden 1960)
  • Os índios a partir de João Mendes Júnior (Schaden 1975)
  • Os primitivos habitantes do território paulista (Schaden 1954)
  • Pequena Grammatica Allemã (Schaden 1937)
  • Pioneiros alemães da exploração etnológica do Alto Xingu (Schaden 1990)
  • Problemas fundamentais e estado atual das pesquisas sobre os índios do Brasil (Schaden 2013)
  • Recentes contribuições à Antropologia brasileira (Schaden 1950)
  • Relações intertribais e estratificação social entre índios sulamericanos (Schaden 1948)
  • Resenha de "Der grösste Indianerforscher aller Zeiten" [Cappeller 1962] (Schaden 1964)
  • Sugestões para pesquisas etnográficas entre os índios do Brasil (Nimuendajú 1946)

Artigos sobre Schaden

  • Faria, Luiz de Castro. 1993. Egon Schaden (1913-1991). Anuário Antropológico, 91, p. 241-255. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
  • Laraia, Roque de Barros. 2013. A etnologia de Egon Schaden. Revista de Antropologia, v. 56, nº 1, p. 427-439.
  • Martins, Pedro & Tânia Welter. 2013. Egon Schaden, um alemão catarinense. Revista de Antropologia, v. 56, nº 1, p. 441-468.
  • Melià, Bartomeu. 1992. Egon Schaden: um nome na etnologia guarani. Revista USP, n. 13, p. 74-77.
  • Pereira, João Baptista Borges. 1994. Emilio Willems e Egon Schaden na história da Antropologia. Estudos Avançados, 8(22), p. 249-253.
  • Pereira, João Baptista Borges. 2013. Egon Schaden: a pessoa e o acadêmico. Revista de Antropologia, v. 56, nº 1, 469-482.
  • Welter, Tânia & Pedro Martins. 2013. Atualidade da obra de Egon Schaden no centenário de seu Nascimento. Plural, v. 20, n. 2, 173-176.

Referências

  1. a b André Romani (ed.). «Vida e obra de Egon Schaden são lembradas na USP». Jornal da USP. Consultado em 23 de julho de 2022 
  2. «Breve Biografia de Egon Schaden». Instituto Egon Schaden. Consultado em 23 de julho de 2022 
  3. Pedro Martins (ed.). «O centenário de nascimento de Egon Schaden: entrevista com Antonio Candido». Revista Brasileira de Ciências Sociais. 29 (85). doi:10.1590/S0102-69092014000200002 
  4. a b c d e Pereira, João Baptista Borges (1994). «Emilio Willems e Egon Schaden na história da Antropologia». Revista de Estudos Avançados da USP. 8 (22). doi:10.1590/S0103-40141994000300029 
  5. a b Marras, Stélio (2003). «Pessoa e instituição – entrevista com João Baptista Borges Pereira». Revista de Antropologia. 46 (2). doi:10.1590/S0034-77012003000200002 
  6. «Seminário de Cem Anos do antropólogo Egon Schaden». Notícias da UFSC. 8 de abril de 2013. Consultado em 23 de julho de 2022 
  7. «Egon Schaden zum Gedaechtnis» (PDF). Instituto Egon Schaden. 16 de setembro de 1991. Consultado em 23 de julho de 2022 

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