Tomás da Rosa

Tomás da Rosa
Nascimento 20 de dezembro de 1921
Candelária
Morte 11 de março de 1994
Horta
Cidadania Portugal
Alma mater
Ocupação professor, escritor
[edite no Wikidata]

Tomás da Rosa Pereira Júnior (Santo António do Monte, Candelária (Madalena), 20 de dezembro de 1921 — Horta, 11 de março de 1994), mais conhecido por Tomás da Rosa, foi um professor liceal, jornalista, latinista e ensaísta.[1][2][3]

Biografia

Tomás da Rosa nasceu no lugar do Monte, freguesia da Candelária, na ilha do Pico, filho mais velho de Tomás da Rosa Pereira e de sua mulher Narcisa da Rosa Pereira. Teve cinco irmãs e um irmão. Concluídos o estudos primários na escola da sua freguesia natal (de outubro de 1929 a junho de 1933), onde foi aluno da professora Maria Amélia Amaral, fez o exame da 4.ª classe na vila da Madalena, ficando distinto.[4]

Nesse mesmo ano, com 11 anos de idade, embarcou no paquete Lima, na viagem que saiu da Horta a 16 de Setembro de 1933, rumo a Lisboa, para daí seguir para Macau a fim de estudar no Seminário de São José daquele cidade. Este foi o percurso seguido por dezenas de crianças açorianas, que na impossibilidade de prosseguirem estudos na sua terra natal seguiam para Macau, onde o açoriano D. José da Costa Nunes era então o bispo diocesano.[4] O grupo integrava mais quatro rapazes do Pico, Faial e São Jorge, e em Lisboa juntou-se-lhes outro, de Freixo de Espada à Cinta, sendo seis os adolescentes que nesse ano ingressaram no Seminário de São José de Macau.

Em Macau, apesar de ser ter revelado um aluno exemplar e distintíssimo, decidiu que não tinha vocação para o sacerdócio e em janeiro de 1941, aos 18 anos de idade e quando frequentava o 2.º ano de Teologia, abandonou o Seminário. Após ter cumprido o serviço militar obrigatório como soldado em Macau, aproveitando o bom nível de ensino que recebera no Seminário de São José de Macau, passou a dar explicações particulares para sobreviver. Prestou provas de exame do 7.º ano no Liceu Infante D. Henrique, de Macau, obtendo excelente classificação e ficando assim habilitado para ingressar no ensino superior.

Em 1946 deixou Macau a bordo do paquete Colonial, o primeiro navio mercante português que foi a Macau após a Segunda Guerra Mundial, numa viagem que levou três meses para chegar a Lisboa pela rota do Cabo. Chegou às Lajes do Pico a 3 de Maio de 1946, com 24 anos de idade, vindo no mesmo Lima em que partira em 1933.[5]

Apesar da Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta lhe ter recusado bolsa de estudos, por não o considerar «aluno distinto», em outubro de 1946 fixou-se em Lisboa onde ingressou no curso de Filologia Clássica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Terminou o curso em 1950, obtendo sempre ao longo dos quatro anos que ali estudou a média mais alta e sendo sempre o mais bem classificado em Latim. Tendo-se revelado um latinista nato, foi convidado para assistente na Faculdade onde se licenciou, cargo que não aceitou.[4]

Optou pelo ensino liceal, tendo feito o estágio profissional no Liceu de D. João III, em Coimbra. Foi colocado interinamente no Liceu Nacional da Horta, em 1952. Professor efectivo no ano seguinte, leccionou naquele liceu a disciplina de Português e várias outras disciplinas, tendo ali permanecido 1989, ano em que se aposentou.[5] Entre 1964 e 1972 exerceu o cargo de vice-reitor daquele estabelecimento de ensino.[1]

Dotado de «vastíssima cultura, de extraordinária inteligência e de prodigiosa memória»,[5] foi figura destacada no meio cultural açoriano, participando como conferencista e palestrante em múltiplos eventos. Integrou o grupo de 14 individualidades que em 1955 fundaram o Núcleo Cultural da Horta, a cuja direcção pertenceu entre 1958 a 1967.

A sua participação cívica levou a que fosse nomeado procurador à Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta e que em 1983 estivesse entre os principais dinamizadores das comemorações dos 150 anos da elevação da Horta de vila a cidade.[1]

No campo jornalístico foi colaborador de múltiplos periódicos, com destaque para O Clarim (que era o órgão da Juventude Escolar Católica), o Correio da Horta, O Telégrafo, O Dever, A União, a Vigília, o Arauto, a Atlântida, A Ilha e o Diário de Moçambique, entre outros periódicos. Foi o primeiro editor do jornal académico do Liceu Nacional da Horta, intitulado o Arauto, publicado irregularmente entre 1957 e 1973.[1]

Contudo, a sua melhor produção literária foram os ensaios que foi escrevendo ao longo de várias décadas. A sua produção escrita estende-se por áreas tão diversificadas, como o ensaio literário, a crítica literária, a crónica, o artigo de opinião, o prefácio, a poesia, a palestra, a conferência, a recolha linguística e o conto.[5]

Entre os seus estudos mais importantes, merecem destaque os ensaios literários sobre Roberto de Mesquita, Nunes da Rosa, Florêncio Terra e Garcia Monteiro. A par de Vitorino Nemésio, Dinis da Luz e Eduíno de Jesus, foi o grande divulgador da obra de Roberto de Mesquita. Produziu contos e poesia, obra que o Núcleo Cultural da Horta tem editado postumamente.[2]

Está incluído no Dicionário de Literatura Portuguesa, Brasileira e Galega, de Jacinto do Prado Coelho,[6] e na Antologia Poética dos Açores, de Ruy Galvão de Carvalho.[7]

Foi objecto de diversas homenagens póstumas, tendo em 1994 recebido o o título de «cidadão honorário do concelho» concedido pela Câmara Municipal da Horta. O seu nome consta da toponímia da cidade da Horta tendo em Maio de 1999 sido atribuído o nome de «Rua Doutor Tomás da Rosa» à via que liga a Canada das Dutras à Rua do Paiol.[8]. Foi novamente homenageado pela Câmara Municipal da Horta em 4 de Julho de 2002, aquando das comemorações do 169.º aniversário da cidade da Horta.[1]

Obras publicadas

Para além de uma vasta obra dispersa por periódicos, é autor das seguintes obras:[9]

  • (1954) As éclogas de Henrique Caiado. Coimbra : Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos (tese de licenciatura).
  • (1956) Miragem do tempo. Angra do Heroísmo, Seminário de Angra. (poesia; 2.ª edição em 1996, Horta, Núcleo Cultural da Horta).
  • (1960) O Infante D. Henrique e a Missão Civilizadora de Portugal, separata do vol. 2 do Boletim do Núcleo Cultural da Horta.
  • (1985) Evangelização a partir dos Açores
  • (1990) Alguns estudos. Horta, Câmara Municipal da Horta (ensaios sobre as obras de Roberto de Mesquita e de Nunes da Rosa e estudos dispersos).
  • (2003) Ilha morena. Horta, Câmara Municipal da Horta (contos).
  • (2005) A tarde e a sombra, Horta, Câmara Municipal da Horta (contos; introdução de Manuel Tomás Gaspar da Costa).

Notas

  1. a b c d e Enciclopédia Açoriana: "Pereira Júnior, Tomás da Rosa".
  2. a b Manuel Tomás Gaspar da Costa, "Introdução" in Tomás da Rosa, A tarde e a sombra. Horta, Núcleo Cultural da Horta, 2005.
  3. Olívia do Coração de Jesus Pereira (irmã de Tomás da Rosa), "Tomás da Rosa Pereira Júnior" in Açoriano Oriental, Ponta Delgada, edição de 7 de Julho de 1994.
  4. a b c Fernando Faria, " Dr. Tomá da Rosa, um homem", in Correio da Horta, Horta, n.º 21.273, 11 de Maio de 2005.
  5. a b c d Victor Rui Dores, "Tomás da Rosa: sua vida e seus escritos", in Boletim Municipal da Horta, 75 (2003): 26-27.
  6. Jacinto do Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa Brasileira Galega e Estilística Literária (5 volumes). Figueirinhas, Porto, 1978-1989.
  7. Ruy Galvão de Carvalho, Antologia Poética dos Açores. Angra do Heroísmo, 1979.
  8. Câmara Municipal da Horta, Livro de Actas, 1999: fl. 106.
  9. Victor Rui Dores, "Tomás da Rosa - sua vida e seus escritos".

Ligações externas

  • Pico da Vigia: Tomás da Rosa
Controle de autoridade